Silêncio

O silêncio é muito importante para manter a minha sanidade. Imagino que todas pessoas se beneficiariam muito de momentos de silêncio, de quietude, sem interferências ou eletrônicos de qualquer tipo.

Houve um tempo, quando eu morava só, em que não havia um minuto de silêncio na minha vida. Eu entrava em casa depois de horas de trabalho e trânsito e ligava automaticamente o aparelho de som na sala. Percebo em vários lares a TV como o som ambiente de todas as horas – mesmo quando ninguém está assistindo, ela está lá, implantando desejos de consumo, enviando mensagens subliminares, noções básicas de violência e medo disfarçadas de distração. Para afinar conceitos, distração = distrair da ação, algo que te tira do que você deveria estar fazendo – que é se cuidar em primeiro lugar.

A TV nunca me atraiu, raramente assistia e, naquela época, me cobrava muito por isso. Pelo meu trabalho em marketing, eu deveria assistir tudo todos os dias, saber o que os concorrentes estavam anunciando e todos os atores e atrizes que despontavam no cenário dos desejados. Que nada, para mim TV já era um desperdício, mesmo pagando as minhas contas. Mas a música estava sempre lá, a trilha sonora de cada pensamento.

O silêncio é uma imersão em mim mesma, uma busca do meu mundo interior onde as respostas brotam como as flores na primavera. O silêncio é um estado do ser de pura contemplação da essência. A essência não precisa de adjetivos, não precisa ser qualificada como bela ou ruim. A essência apenas é. Pura. Além da casca das aparências, além das vontades e desejos humanos. A essência traz a serenidade da saciedade porque afinal, o que mais seria necessário? Na essência, a tristeza se dissolve em luz, a raiva perde o sentido.

Quando o silêncio é uma fuga da vida que machuca, de pessoas que incomodam, de situações que não conseguimos resolver, ele pode vir em forma de sono exagerado ou a letargia que te afunda pesado no sofá, uma forma de isolamento. O silêncio do não falar o que é preciso dói, fica latejando. Não resolve. E a gente sai dele cansado.

Como transformar um silêncio estilo #fui #todemalcomvocê #medeixaempaz em uma oportunidade de auto-conhecimento?

Foco. A lente do nosso telescópio deve ser movida do cometa/problema em si para a gratidão de poder sentir o que é real, de saber que há algo destoante para ser purificado. Apenas quando nos damos conta de que há algo para arrumar é que podemos realmente empreender a faxina interna. O que existe de negativo fora é reflexo do nosso mundo interior.

As nossas crenças, muitas delas limitantes, não permitem que possamos atuar como comandantes do nosso destino. Somos reféns das nossas crenças, verdadeiros escravos de um projeto de sufocamento do nosso  potencial. Criado por quem esse projeto? Em última análise, quem é o responsável pelos nossos sucessos ou fracassos como pessoa humana? Os pais que te criaram da melhor forma que puderam fazer? O governo que impõe custos injustos e impostos? A família que não te apoia ou compreende? Deus ou o diabo?

Olhe no espelho.

No fundo no fundo mesmo, nós temos o poder de mudar, mas temos tanto medo da mudança que ficamos paralisados. A “mudança” se elevou à categoria de uma entidade que assombra as pessoas. Queremos segurança num planeta que viaja a zilhões de quilômetros por segundo pelo espaço. Queremos segurança de que amanhã será tudo igual. Como assim? Numa tentativa insana, criamos as caixinhas e nos enquadramos nelas: preciso agradar as pessoas de certa forma para elas me amarem, caso contrário, ficarei sozinho… Por que é tão perigoso, tão assustador ficar sozinho?

Sendo que nunca estamos sozinhos de verdade mas para saber disso precisamos ficar em silêncio, a sós, para sentir a imensidão no nosso ser em comunhão com o universo.

Grande inspiração “Se eu quiser falar com Deus”, Gillberto Gil https://www.youtube.com/watch?v=3eKnerBU4HY

Caminhante, se faz o caminho ao andar

Como reagimos quando temos um relacionamento e algumas diferenças entre nós, até então despercebidas ou aparentemente sem relevância, começam a incomodar muito, como feras de garras afiadas prontas para o ataque ou como muros intransponíveis?

Se você tem um relacionamento, você atraiu essa pessoa por vários motivos. Houve uma sintonia consciente e inconsciente. A sintonia consciente refere-se, por exemplo, à idade compatível, nível sócio-cultural equivalente (conseguimos “falar a mesma lígua”), aceitação mútua das famílias de cada um e das atividades que exercem etc – a lista pode ser longa.

A atração inconsciente tem a ver com o padrão de energia que emitem, mais densa ou mais sutil, (in)compatibilidades espirituais e também com os contratos que fazemos antes de nascer – o que nos propomos a aprender nessa vida? Quem serão  nossos companheiros nessa nova estória? A inteligência do universo coloca essas pessoas no nosso caminho. Às vezes, reconhecemos esses seres como atraentes, outras vezes, como insuportáveis. As reações negativas extremas também indicam tarefas a cumprir. Podemos não aceitar no momento, buscar qualquer recurso para ficar longe dessas pessoas. Isso seria assunto para outro dia.

Vamos supor que aceitamos o convite e começamos a nos relacionar com o amor de nossas vidas. Abraçamos com carinho e emoção essa pessoa que o universo nos enviou, constituímos uma família linda, criamos filhos saudáveis! Tudo muito bom, tudo muito bem até que surgem questionamentos. Se estamos desenvolvendo o nosso compromisso espiritual e vivendo a nossa missão mesmo sem saber, estamos em paz. Mas se temos dúvidas em relação ao sentido da vida e começa surgir um vazio existencial, uma angústia, uma sensação de não pertencimento… Das duas, uma: ou fingimos que não é com a gente e enfiamos a cabeça na terra igual avestruz esperando “essa coceira existencial” passar, ou saímos em busca de respostas. E assim começa a nossa jornada do herói.

Quando lançamos ao universo um pedido do coração, da nossa essência, ele responde, ele sempre responde. E, como li ontem num outro post (não encontrei o link, sorry), a resposta é sempre Sim! As pessoas certas aparecem, livros caem da estante no seu colo, cursos e seminários, a vida flui e te supre com o material necessário. (Tenho uma estória bem pessoal e romântica que vou colocar logo logo sobre as respostas maravilhosas do universo. Aguardem.)

E como fica o companheiro(a) que está a seu lado, lhe dando força, coragem, ânimo, suporte e cafuné por tanto tempo? Ele(a) se atira junto nessa viagem ao desconhecido? Maravilha. Ou ele (a) empaca na negação: “não, não, está tudo bem, para que mexer em time que está ganhando? sempre resolvemos dessa forma, para que mudar agora?, vamos ficar por aqui mesmo que é confortável, tranquilo….”

A relação vai passar por estremecimentos, ajustes, até rupturas que podem ser temporárias ou não. As rupturas podem se apresentar no corpo físico se forem muito fortes. Faz parte. Faz parte do crescimento individual. Faz parte do crescimento do relacionamento para atingir um novo patamar de cumplicidade. Contudo, faz parte também ter respeito e compaixão. Respeitar o movimento de um, respeitar a pausa do outro. Respeitar o espaço de cada um, sua individualidade, seus interesses. Respeitar novas opções alimentares e sociais. Respeitar os momentos de silêncio e terapias. Respeitar a coragem de um lado e receio do outro. Dar o tempo que se faz necessário para subir à superfície e tomar fôlego antes da próxima investida às profundezas do ser. Nessas horas, o respeito é mais importante que o amor. Nessas horas, o respeito se enche de compaixão, aliviando o sofrimento, a dúvida e a incerteza do outro.

Saber que escolhemos essa pessoa para estar ali nesse momento e testemunhar o nosso despertar é ainda mais belo quando podemos proporcionar o conforto para que ela também avance na sua própria senda interior. Não há trilhas prontas a seguir, cada um faz seu caminho, como sabiamente nos explica o poeta Antonio Machado, em Cantares:

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace el camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante no hay camino
sino estelas en la mar.

Traduzindo à minha maneira:

Caminhante, são tuas pegadas
o caminho e nada mais;
Caminhante, não há caminho,
Se faz o caminho ao andar.
Ao andar se faz o caminho
E ao voltar a vista atrás
Se vê a senda que nunca
voltarás a pisar.
Caminhante, não há caminho
Senão pegadas no mar.
Poema cantado lindamente por Joan Manuel Serrat: https://www.youtube.com/watch?v=Lj-W6D2LSlo

“As pessoas mais difíceis na sua vida são seus maiores mestres.”

Ouvi essa frase de uma grande terapeuta, aliás, quantas lições maravilhosas aprendi com ela ao som da sua voz doce e de música suave. Eu a chamava de fada. Ela tinha olhar de fada, mãos de fada – dessas que deslizam pelo seu corpo com o óleo de massagem quase sem tocar a pele e te conduzem a um estado de relaxamento tão profundo que o mundo pode até acabar naquele momento porque você sabe que “está tudo bem”. Conexões poderosas que, momentos depois se esvaem na agitação da cidade, não sem antes ativar nosso fluxo de energia, alterar padrões, reequilibrar o campo mental e emocional.

As pessoas que dificultam o nosso caminho nos tiram da zona de conforto, nos obrigam a buscar alternativas na comunicação e nas atitudes. As fórmulas que usamos normalmente não funcionam com elas porque estão sempre nos pressionando, contestando ou desafiando. Assim somos obrigados a nos reinventar, a mudar e, consequentemente, a melhorar.

Uma opção seria trilhar outro caminho e não cruzar mais com elas. Opção essa nem sempre disponível pois, muitas vezes, elas são nossos pais, filhos ou colegas de trabalho… Não se troca de emprego cada vez que há desentendimentos com alguém. Não se divorcia do marido/esposa a cada muro que brota do chão entre os dois. Não se demite um filho, “sabe, agora tá muito complicado para mim, não quero mais cuidar de você”.

Há pessoas que são hábeis em fugir de desafios – casam várias vezes, trocam de emprego como se troca de roupa ou até abandonam filhos pelo caminho. Apesar de parecer que tudo vai ser diferente com o novo parceiro, por exemplo, se a lição não foi assimilada, o universo recria as condições de aprendizado novamente. A vida é como um videogame – não se pode passar de fase sem completar as tarefas da anterior. Enquanto não aprendemos a driblar todos os monstros e obstáculos de uma fase, não podemos pular para a próxima. Tampouco tem “jeitinho” que resolva.

Quando aparecem os desafios nos relacionamentos, somos impulsionados a mudar, a acessar a força primordial dentro de nós para tratar as diferenças e chegar à compreensão e ao equilíbrio. Percebemos aí o papel espiritual do “mal” na vida prática: uma situação ruim pode ser uma alavanca para o nosso crescimento. Isso se resolve buscando o auto-conhecimento, olhando para dentro, analisando o sistema de crenças – com ou sem ajuda terapêutica.

As situações repetitivas na nossa vida nos convidam a refletir sobre nós mesmos, sobre a nossa responsabilidade em atrair constantemente o mesmo tipo de evento negativo, seja um namorado(a) agressivo e desonesto ou traições de amigos e colegas de trabalho ou mesmo doenças que vão e vem. Como nos sonhos repetitivos – tem uma mensagem ali para você, qual é? Investigar e olhar de frente é mais eficiente que ir para a cama com medo de dormir.

E seus mestres, quem são?

Gratidão

A gratidão tem me invadido ultimamente, a cada instante. Existe o lado prático da vida, muito importante: família amorosa, casa e conforto, comida boa e abundante, saúde, pais amorosos, liberdade… uma longa lista. Por isso tudo, sim, gratidão!

Gratidão imensa pela conexão divina que sinto cada vez mais forte em mim e ao meu redor, me inspirando e me instruindo, me guiando nas palavras e nas ações. Sentar para rezar ou meditar e poder ouvir a intuição, a voz do coração, a voz de Deus em mim – isso não tem preço (e não é comercial de tv). Tanto tempo praticando sem “ouvir nada”… desanimador? De jeito nenhum! Não se entra em meditação com um objetivo a alcançar. Meditar em si é o objetivo. Qualquer coisa que se queira obter com a prática, desvia a prática da sua essência. Mas os resultados aparecem de forma indireta, suave, lenta… (eu sei que alguns são bem mais rapidinhos que eu, já passaram de fase no game faz tempo).

Muitas pessoas queridas me incentivaram a continuar nessa viagem para dentro. Venho há tempos num longo processo terapêutico passando por filosofias variadas – psicoterapia de Jung, bioenergética e várias terapias alternativas como reiki e cura quântica. Cada profissional me trouxe muitos insights, muitas curas e meu mundo foi ficando mais rico.

Mas não foi assim suave. Minhas dores me levaram à essa busca.

Lembrando agora o grande fiasco da minha primeira sessão de reiki, há mais de 20 anos. Como as coisas mudam!!! A psicóloga com que eu estava me tratando, sugeriu que eu fizesse uma sessão de reiki com uma colega nova da clínica. Eu perguntei o que era aquilo, ela não explicou nada mas insistiu que valeria a pena. Relutei, relutei mas, como confiava muito nela, acabei aceitando “perder” uma hora da minha vida corrida naquela experiência. Eu me sentia como um rato de laboratório servindo a testes. Entrei na sala com dor de cabeça. Sai, depois de 60 minutos, com dor de cabeça. E com raiva, muita raiva porque “nada” tinha acontecido alí.  Só tinha perdido meu tempo e dinheiro. A moça nem encostou a mão em mim, como ela poderia me ajudar? Logo eu, que estava acostumada a tratar as dores com shiatsu, ou seja, o alemão massagista habilmente localizava minhas dores e colocava pressão nesses pontos – a matemática era: dor + dor = não dor. Eu pagava um bom preço pela minha rigidez física e emocional. Eu acreditava piamente que remédio amargo é o que cura. Crenças…

E hoje eu pratico essa mesma terapia, associada a outras técnicas, e vejo muitos resultados. Como minha vida mudou!

Mas claro, o que isso me ensina: dentre muitas coisas que, para cada pessoa, cada momento de vida, cada caso – um remédio diferente, uma terapia diferente. Para quem só acredita no que se pode ver ou comprovar, nada disso existe. Da mesma forma que a homeopatia não serve a todos os pacientes e nem a alopatia cura igualmente todas as pessoas.

Daquela sessão para hoje, não dei nenhum salto quântico não. Comecei a praticar yoga, fui aumentando minha percepção corporal, dando abertura para coisas diferentes, tive minhas filhas, fui incorporando devagar a meditação… um passo a cada dia.

Gratidão imensa à minha mãe que, num dia preguiçoso, na praia, em que minha filha do meio estava cheia de dores estranhas (dores sem causa), me sugeriu: “mas por que você não faz reiki nela?” Imediatamente quando voltei para casa, comecei a pesquisar um curso. Ela apertou algum botão mágico dentro de mim! Acendou a luz! Que poder tem as mães.
Gratidão Mãe!

Tempo de Silêncio

Fala-se tanto que precisamos cultivar o silêncio, regá-lo todos os dias como uma plantinha nova até ele se firmar e fazer parte da nossa rotina, até nos fazer falta. O silêncio acalma, o silêncio evita brigas, o silêncio traz respostas, o silêncio é o remédio mais barato que existe e, por isso mesmo, desprezado.

Quando se tenta iniciar essa prática, a gente descobre que existem dois tipos de silêncio (ou de barulho): o externo e o interno. Os ruídos da cidade, telefones, crianças e outros estímulos externos fazem parte de um bloco grande que podemos desligar, abrandar, diminuir o volume, ainda que sem apagá-los por completo. No início da prática, eles incomodam muito, como se estivessem o tempo todo nos cutucando para parar logo com isso e fazer alguma coisa, qualquer coisa, que não seja essa brincadeira de estátua da meditação.

Os corajosos obstinados que mantêm a disciplina e continuam na prática, nem que seja por poucos minutos, percebem que o barulho da coisas e das pessoas é o que menos incomoda. O que pega mesmo é o nosso próprio ruído interno, a nossa mente pensante viciada incapaz de descansar por um minuto sequer. E essa “mente” que parece uma entidade com vida própria não tem botão de liga/desliga. Você lá no fundo deseja que o telefone toque ou alguém o chame – pode ser algo urgente, afinal – então você teria uma boa desculpa para levantar e pronto. Que alívio.

Esse silêncio em que ficamos a sós com a gente mesmo é fundamental para a saúde da mente e do corpo. E mesmo com todos os benefícios da meditação divulgados por vários mestres, terapeutas e praticantes, a maioria das pessoas resiste. É preferível entregar-se a fórmulas prontas fáceis que não exigem mudanças internas ou auto-disciplina, e continuar colocando a culpa dos nossos dilemas e dores na falta de tempo, no trabalho ou na família…

Por que é tão desconfortável estar na própria companhia? Sem qualquer atividade, em casa, na paz, sem pressão, sem TV nem música, sem digitar no celular, comprar, comer…. Fazer nada. Palavra que assusta essa: nada. A gente mesmo não se aguenta, mas os outros tem obrigação de nos aguentar.

Vivemos num mundo de conexões instantâneas e rápidas (para quem tem 4G) com qualquer parte do mundo e bem desconectados da nossa própria essência, de quem somos de verdade. Ninguém vai nos dar essa resposta. A busca é de cada um. Única.

(Para uma lista detalhada dos benefícios da meditação, recomendo o site Arte de Viver: https://www.artofliving.org/br-pt/beneficios-da-meditacao).

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