Você sabe o que você quer? Então peça.

Fala-se tanto que somos co-criadores da nossa realidade, que se pode usar a lei da atração para prosperar, mudar de emprego, arrumar namorado… Tão simples e, na prática, tão complicado. Será que não confiamos no universo?  Será que não sabemos pedir? Ou será pior ainda, sabemos pedir mas não nos sentimos merecedores dos nossos desejos e sabotamos inconscientemente os nossos próprios projetos?

Aí vai uma história de alguém que aprendeu a pedir e confiar.

Num impulso juvenil insensato, casei aos 21 anos. Uma semana antes da cerimônia, soube que estava tudo errado, mas não tive coragem de desarmar o circo contratado para a reunião de mais de 300 pessoas que meus pais estavam me proporcionando com tanto amor e sacrifício. Casada, vivia sozinha na minha casa de bonecas grande. Apesar de muitas tentativas para me aproximar daquele ser estranho que dormia ao meu lado, nada funcionava. Contudo não conseguia me separar. Vivia sob o dogma: “o que Deus uniu, o homem não separa”. Foram cinco anos tristes e tortuosos levando a um final orquestrado em terapia.

A psicóloga era minha xará e sua atuação foi decisiva. Em três semanas, consegui um advogado e dei início ao processo. Depois de meses de negociação, enfim a liberdade. Conquistei meu apartamento pequeno e lindo, meu canto, meu sossego e minha solidão verdadeira aos 26 anos.

Desenvolvi uma técnica para me aproximar dos homens – os primeiros encontros deveriam ser curtos, como um café ou sorvete para que eu pudesse fugir rapidamente ao primeiro sinal de alerta amarelo piscando. Me tornei mestra em arrumar defeito nas pessoas e assim fui criando uma carapaça de proteção (ou de medo). Resolvi voltar à terapia. Sábia decisão. Também recorria à sessões semanais de shiatsu para aliviar a tensão nos ombros e intensas dores de cabeça. Um dia, meu massagista estava tentando desatar os nós de tensão nas laterais do osso esterno e começou a falar: “essa região está muito dolorida, você deve estar com o coração fechado. Como vão seus relacionamentos?” Eu só dei de ombros. Ele continuou: “então por que você não pede o que quer?” Como assim? Eu retruquei. “É, pedir, mas pede direito, pede com detalhes, o máximo que puder porque se não, você pede um cara que goste de você e ele mora no Recife, vai ser bom? Não. Pega um papel, escreve o que quer, guarda e esquece. Deixe o universo providenciar a encomenda para você.”

Achei meio doido, mas afinal, eu não tinha nada a perder e não custava nada.

Votei para casa, jantei um pacote de pão de queijo, peguei meu diário e liguei o motor. No início, estava lá, escrevendo e pensando que era a primeira vez que eu fazia um esforço consciente para detalhar coisas tão importantes para a minha vida. Continuei escrevendo e, aos poucos, fui sumindo até não estar mais lá: a minha mão continuou a marcar letras no papel independente da minha vontade. Escrevi cinco páginas ricas em todo tipo de detalhes: altura e medidas, cor dos olhos, peso, tipo de trabalho, gostos alimentares, interesses sociais, ele teria de ter sido casado mas sem pensão e sem filhos, teria seu apartamento próprio mas não moraríamos nele e nem no meu, muitos detalhes… No início, lê-se 8 de março de 1997. Depois disso, meu caderno recebeu mais impressões, guardou outros segredos, fiel companheiro em cada momento.

Em junho fui para França e Itália de férias. Trouxe para a minha terapeuta-xará uma corrente com pingente de coração partido, dessas que se divide e fica uma parte com cada pessoa, amigo ou namorado. Ela abriu o pacote e ficou paralisada. Assumi que não tivesse gostado do presente. De repente, ela levanta de um salto e diz: “tá, eu vou ter de falar, eu conheço a sua alma gêmea. Só que deixa que Deus põe ele no seu caminho. Pronto, falei.” Protestei no ato: Deus, que Deus? Deus é você agora, você não pode me deixar assim!!!

Ela tinha atendido esse paciente anos atrás – uma terapia de casal que se transformou em divórcio. Terminada a terapia, ficaram amigos por um tempo. Quando voltei de viagem, ela estava desatualizada da vida dele, mas a obriguei a investigar.  Descobriu que estava desempregado. Bingo! Eu era muito bem relacionada no mercado e esse seria o motivo de armarmos um encontro sem que ele suspeitasse de nada. Um mês infinitamente longo se passou até acertarmos uma data. Ele chegou atrasado à clínica no final da minha consulta. Como eu tinha desistido de esperar, desci as escadas para ir embora. Ele, na recepção, me olhou e meus joelhos começaram a tremer com uma flexibilidade inimaginável e ainda por cima faziam um barulho de ranger de dentes absurdo, pareciam duas metralhadoras – que vergonha!

A conversa foi breve, objetiva, de negócios. Pedi o currículo dele e aguardei – dias sem dormir. Ele foi entregar os CVs na minha casa. As fotos da viagem espalhadas na mesa. Ele conhecia todos aqueles lugares,  tinha ido aos mesmos shows que fui, lido os mesmos livros, comido nos mesmos restaurantes, ouvido os mesmos CDs…. Bem, nunca mais ele foi embora.

Depois de uns três meses que estávamos juntos, me lembrei do pedido no diário. Curioso, ele se pôs a ler imediatamente e suspeitou que eu tinha anotado tudo depois de nos conhecermos, pois era uma descrição perfeita dele, com muitos detalhes, escrita no dia do aniversário dele – que até então eu não sabia qual era.

Pois é, 20 anos se passaram. Hoje (3 de abril), comemoramos 18 anos de casamento, com três filhas, muitas mudanças, muitas experiências, muito aprendizado.

Você sabe o que você quer da vida? Então peça!

Publicado por Denise Fracaro

Sou uma pessoa que não cansa de estudar, em busca constante de autoconhecimento, com imenso prazer em compartilhar seus achados para o benefício de todos os seres. Além de blogar, trabalho com terapias quânticas usando diversas técnicas e dou cursos e workshops.

5 comentários em “Você sabe o que você quer? Então peça.

  1. Que linda essa história!!! Nem eu conhecia todos os detalhes, muito bacana mesmo!!! Já mostrou para ele? Tem que mostrar hein!!! Amo vocês! Adorei!

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