Você sabia que a escravidão existe?

Não me refiro a crianças e adultos explorados, forçados a trabalhos pesados e serviços que nem quero mencionar. Crueldade com requintes de sadismo ainda existe em vários lugares, infelizmente.

Me refiro a mim, a você e a todos que somos escravos de algozes invisíveis que nem sabemos nominar. O que são esses espectros que nos dominam sem palavras, que nos prendem sem correntes, invadem os nossos pensamentos e, sobretudo, tem poder sobre nós?

Nós somos escravos das nossas crenças.

Crença é sinônimo de fé, certeza, convicção. Uma crença pode ter fundamento científico ou não. De qualquer forma, quando uma crença está instalada no nosso sistema é difícil ser mudada. Por muito tempo, acreditou-se que a Terra era plana e também o centro do universo. Quem fosse contrário a isso era considerado herege e condenado à morte. A ciência evoluiu, conseguiu comprovar novas teorias, mas duro mesmo foi mudar as crenças implantadas na cabeça das pessoas.

Muitas vezes, nosso inconsciente opera como um porão lotado de padrões enrigecidos que controlam as nossas respostas. Como insetos rastejantes subindo pelo encanamento do nosso sistema endócrino, tomam de assalto as nossas emoções. Podem ser negativas ou não, as crenças, podem até parecer “boas” – mas quando são rígidas demais engessam nossos braços, causam dores nas articulações e impedem o desenvolvimento.

Se eu acredito que posso ser bombeiro, médico ou mestre cuca ou que tenho capacidade de entrar em qualquer faculdade, vou focar nisso, vou trabalhar e vou conseguir. Se, pelo contrário, eu acredito que “veja bem, o país está em crise, o desemprego só aumenta, são muitos candidatos por vaga, ninguém vai me contratar porque não tenho experiência, não vou ter a promoção porque sou mulher, não abro meu negócio porque a maioria das empresas fecha no primeiro ano…” A lista de empecilhos é grande e variada mas o que mora no fundo desse poço é a questão de acreditar não ser bom o suficiente, não ser merecedor de sucesso, respeito ou amor.  São crenças negativas que destroem a auto-estima, colocam um teto com pé direito bem baixo na sua evolução.

Por outro lado, um exemplo de crença “boa” porém limitante: “o que Deus uniu, o homem não separa.“ Tem coisa mais antiga que isso? Quando eu era criança, tinha uma propaganda na TV na qual um casal de noivos está na igreja na hora do famoso sim e o padre conclui com essa frase. Nem me lembro do produto, mas era o mantra da minha casa. Na época, as mulheres separadas eram chamadas de “desquitadas” e vistas com desconfiança, desprezadas pelas próprias amigas, ex-amigas. Estigmas de uma época em que ficar mal-casada era melhor que separada-livre-solta. Afinal, para que tanta liberdade? Será que, entre uma troca de fraldas e outra, não invejavam secretamente a antiga amiga? Ao menos, coragem ela teve de sobra…

Por conta disso, fiquei cinco anos num casamento que poderia ter acabado uma semana antes ou na lua de mel mesmo. Sinais claros e eu… fingindo de surda. Cadê a coragem para desarmar tudo? A viagem de núpcias foi mais um passeio no parquinho do que um romance nas montanhas nevadas do Chile. Certamente não foi o frio das altitudes andinas que congelou o sangue que corria nas veias de ambos.

O que se une pelos laços do amor (com ou sem papel) é sublime e deve ser cultivado. O casamento representa a união, a geração de novas vidas, um impulso de criação e um porto seguro. Nesses tempos modernos, metade dos casamentos acaba em divórcio. Tem gente que troca de marido/esposa como troca-se de carro. Tolerância, apoio e compaixão são itens em falta no mercado do amor. Quando as coisas desandam de forma inegociável ou Eros se muda para outro endereço, é preciso dar um basta e seguir a vida por vias distintas.

“Sorte no jogo, azar no amor. Não se pode ter tudo na vida.” Quem disse isso queria manter a gente numa situação mediana (ou medíocre!), controlável e resignada a aceitar as migalhas da vida. Tem problema não, cada um pode falar o que quiser, o complicado é quando a gente internaliza essas falas e elas passam a fazer parte do nosso DNA.

Quando a gente sabe qual é a crença que precisamos mudar, já sabemos muito! Tomar consciência dos conteúdos inconscientes é a parte mais complicada, justamente pela dificuldade de entrarmos nesse porão. Afinal de contas, na maioria das famílias ocidentais, a gente não aprende a meditar em casa nem escola, então nem desconfiamos que a chave dessa porta secreta esteja tão perto. A gente não se cumprimenta com namastê honrando o divino em de nós e em todos. Milagre é só para os santos e aquele deus está lá no alto, tão longe, tão inacessível…

Por onde começar?

Por onde tudo começa: por você, só para variar um pouquinho. Meditação, auto-observação, auto-conhecimento com ou sem ajuda.

Só a descoberta do que emperra o nosso crescimento já é um grande alívio e meio problema resolvido. Se não, a vida anda em círculos e ficamos presos em padrões que se repetem e repetem e repetem… ad infinitum. É como ter uma doença sem diagnóstico e fazer dezenas de exames sem saber o que procurar. Isso gera medo, insegurança e, às vezes, pânico. Quando o médico diz: “você tem a doença X”, pode ser até algo terrível mas tem-se um norte, pode-se buscar tratamentos, terapias, paliativos, uma solução!

Li num artigo do Sri Bhagavan recentemente, uma analogia muito linda. Ele dizia que, no treino dos elefantes, na  Índia, eles prendem a pata do elefante bebê numa estaca de ferro de forma que ele não consiga escapar, por mais que tente. Ele se acostuma a ter a perna presa e não poder andar mais que poucos passos. Pobre elefantinho. Quando crescido, a estaca de ferro pode ser substituída por uma de madeira que o elefante não foge, não força, não escapa – embora pudesse fazer isso com facilidade – dada sua potência! Ele aprendeu que corrente prende, ele não contesta. Ponto. Como eles, nós temos a força de um elefante, mas para usá-la, precisamos nos libertar das crenças limitantes que nos acorrentam ao passado, ao fracasso e, principalmente, ao desamor.

E para mim, essa é a principal doença da humanidade, o desamor – a crença de que não somos amados e que, para termos amor, devemos agir, ter, comprar ou fazer determinadas coisas para determinadas pessoas e depois ficar na ansiedade de receber esse agrado, esse pagamento pelos serviços de amor prestados. Tudo isso começa no começo da vida: dentro da barriga da mãe. Quanta responsabilidade gerar uma vida dentro de si!!!

Publicado por Denise Fracaro

Sou uma pessoa que não cansa de estudar, em busca constante de autoconhecimento, com imenso prazer em compartilhar seus achados para o benefício de todos os seres. Além de blogar, trabalho com terapias quânticas usando diversas técnicas e dou cursos e workshops.

3 comentários em “Você sabia que a escravidão existe?

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