saudade do tempo em que era fácil amar
saudade do tempo em que os olhares eram doces
saudades de um tempo sem crítica no pensamento
…sem essa ânsia de ver através que não vê com o coração e fica tentando entender
saudade de um caminhar despreocupado
saudade de sentir segurança no colo que abraça
saudade de ser vista, sem medo
como um amor de jardim da infância
…da inocência perdida
no qual compartilhar o lanche no recreio era tudo
o tempo passou
a vida mudou
muito mais mudou
olhares desviados
cobranças geladas
julgamentos disfarçados
dúvida espalhada por toda parte feito roupa suja no chão
desconfiança
incerteza
terreno escorregadio e pedregoso de caminhar
o cardápio de temas se reduz dia a dia como um restaurante em recessão
desejo infantil de voltar ao tempo de antes do começo do fim do mundo (livre) onde as consciências eram leves e inconscientes
difícil fingir não saber

Esse texto foi escrito no avião a caminho de Salt Lake City em setembro. Não publiquei na volta. Mais um natal chega, mais uma virada de ano, mais daquelas cobranças internas ‘se fiz o que me propus a fazer’ esse ano…
A virada em si não representa nada para mim. Sempre fiquei triste ao observar a ilusão das pessoas colocando toda a sua esperança num ‘ano novo’ embrulhado para presente. Se a gente não mudar, nada muda. Acordar 1 de janeiro de qualquer ano é o mesmo que acordar qualquer outro dia. Se a gente não mudar – nada muda. Só muda o calendário – esse sistema artificial inventado onde baseamos nossa vida.