Algumas portas, a gente abre com força, outras suavemente. Momento de mudanças. Mais fechamentos essa semana: a querida Ângela Cassiano interrompe a revista Perennials Forever.
Deixo aqui minha última contribuição para esse projeto. Leia em: http://perennialsforever.com.br/mais-consciencia-por-favor-7/. Foi muito gostoso escrever para a revista. A interação com Ângela foi muito fácil, do jeito que eu gosto, as coisas fluíram tranquilamente. Novos ventos virão, novas portas se abrirão certamente – #partiufuturo.
Enjoy!
Despertar, de Orfeu a Dom Quixote
Imagine você dormindo bem gostoso e quentinho, abraçado ao seu travesseiro e aconchegado às suas mantas…abandonado nos braços de Orfeu sonhando o sonho dos inocentes… distante do mundo material… alienado em outros reinos da existência. Tá tão bom lá longe no reino da não matéria sem gravidade e sem as leis da física que você não quer nem se mexer!
Por acaso, você gostaria de ser sacudido, acordado aos gritos por um ser incorporado da certeza de que você está perdendo tempo, vivendo num mundo de ilusão e deixando a vida passar sem cuidar do que realmente importa? Você gostaria de ouvir, ainda sonolento de olhos pesados, que está focando seus esforços em algo irreal?
Como você, ainda bêbado de sono, olharia para esse Dom Quixote moderno ao lado da cama, espada em punho? Sinceridade: você estaria ‘agradecido’ por ter sido desperto do seu sonho de mentirinha ou ‘assustado’ de ter sido arrancado do seu castelo de cartas? Mais provável que acorde irritado com esse cavaleiro andante intrometido que, afinal de contas, não fora convidado nem à antessala da sua câmara de repouso!
Seria como levar o golpe seco de um despertador na cabeça arremessado com a força de uma falência, separação, perda de emprego, morte de alguém querido. Outras vezes, vem trazido pelos braços gordinhos de um novo rebento, filho ou neto, ou dentro de uma mala de viagem intensa e cheia de emoções.
O tão famoso despertar só pode vir de dentro, de uma ânsia pessoal por mais consciência. Qualquer estímulo externo só dará resultado se cair em solo fértil, arejado. Se for atirado em terra seca, será completamente em vão.
Algumas pessoas nos provocam e nos inspiram a questionar a realidade, a ampliar a visão. Com cuidado de não gerar dependência, podemos usufruir do caminho trilhado por outros para facilitar alguns de nossos passos. Porém o caminho é solitário. Seus pés precisam avançar a cada passo e ninguém pode te carregar.
Apresento a você uma pessoa bem desconfiada aqui, eu! Anos atrás, me conectei com um guru brasileiro, bem conhecido mundialmente no mundo “esquisotérico”. Fui a um retiro, sonhei com ele. Um ano depois, fui ao segundo retiro ‘sentindo a temperatura da água’, devagar, no meu ritmo.
No primeiro sonho, o guru apenas me observava, silencioso no meu quarto, no meio da noite. Isso me incomodou um pouco, mas não o suficiente. Depois do segundo retiro, tive outro sonho, muito intenso, direto e profundamente aterrador. Ficou claro para mim que era um projeto de dominação e subjugação ao ser travestido de guru.
Acordei muito assustada, certa de ter tido uma experiência real e peguei todos os livros e objetos que tinha comprado ‘a peso de ouro para ajudar a causa nobre’ e apaguei tudo da minha vida. Cortei laços, cortei relações, tanto física como energeticamente. #tôfora! #fui! #denisepartiparanuncamaisvoltar!
Tudo o que tira o meu poder de escolha é uma ameaça à minha integridade e liberdade de ser. Ditadura. Inadmissível.
Anos depois ele foi pego em prevaricação, desmascarado exatamente da forma que tentava roubar minha energia no sonho… O que tem o poder de derrubar um ser supostamente iluminado, depois de tanto trabalho espiritual e tanta dedicação? Costuma ser uma senhora chamada vaidade. Dica: assista “Advogado do Diabo”, um grande filme sobre esse tema com Al Pacino e Keanu Reeves.
Quem precisa de um guru? Quem precisa de alguém dizendo o que fazer, quando e como? Muita gente precisa…
Depois de um despertar espiritual brota uma nova perspectiva sobre a vida prática e começa uma busca sem fim (assim como a própria vida) composta de muitas etapas. É natural termos a necessidade de um mestre quando, na verdade, o único mestre do qual precisamos de fato está a um suspiro de distância.
A gente tem essa suposição por acreditar na nossa incapacidade e pequenez, na nossa insignificância… Imagino que essa seja a nossa maior crença limitante coletiva e deveria cair por terra urgentemente!
Não é preciso ir para Índia e Nepal ou para montanhas geladas. Silenciar. É só o que se requer. Silêncio sim, porque o som do seu coração não grita como as torcidas de futebol. Ele sussurra.
Somente no silêncio você consegue se escutar. O que você ouve talvez só faça sentido para você. E tudo bem se sentir sozinho. E tudo bem ninguém concordar com você. Se você está se permitindo ser, está seguro em ser você. Consciência não é sinônimo de conforto.