Faz tempo demais que não escrevo, até dói. Final de ano, muitas atividades, apresentações, preparações, planejamentos, novo local de trabalho, novos relacionamentos, novos desafios…
Enquanto o mundo de fora devora meu tempo e me puxa para longe de mim, tem uma ânsia dentro que não relaxa. Esses encontros profissionais tem me brindado com lindos presentes para aprofundar meu processo de auto-conhecimento – infinito assim como a vida. Crescimento. Expansão. Abertura. Novas possibilidades, novos pontos de vista, menos limites, menos amarras.
Cada encontro uma mensagem.
Cada encontro não encontrado, evitado – uma lição mais contundente.
Sento na beira de uma praia imaginária para observar meu mar.
O mar pode estar agitado na superfície mas sempre calmo nas profundezas. O mar não perde contato com sua riqueza, com suas entranhas. O mar está sempre em movimento, beneficiado pelas correntes mágicas que levam alimentos a todas as partes e pelos ventos sagrados que agitam barcos e nuvens. Lá dentro, o mar está sempre calmo. No mar também se percebe a dualidade, os opostos. Mesmo que ele se mostre raivoso por fora, no mais íntimo, ele é um poço de contemplação e benevolência, brandura, doação, vida e abundância. Um mar de prosperidade.
Escrevendo ao som de mar agitado: https://www.youtube.com/watch?v=232CYPjKv9A
Algumas pessoas são assim, assim como o mar – podem fazer cara de poucos amigos mas são tranquilas. Outras são calmas por fora e por dentro. Um dia, eu chego lá. De verdade. Essa é a meta, nessa vida, de preferência.
Inspiração ao som de mar calmo: https://www.youtube.com/watch?v=0Qzcw64Bwu0
O que me chamou a atenção recentemente foi ter encontrado várias pessoas serenas por fora com uma turbulência interna tão grande e majestosa mas contida, negada, escondida, inconsciente. Será que elas sabem disso? Quem, eu? Dá um certo medo porque na minha percepção, uma hora esse magma incandescente explode e escapa. Tudo bem que no final, do vulcão escancarado nasce uma ilha mas… também pode explodir para dentro da gente se não encontrar formas de se manifestar e lá vem os AVCs – sinal de que as estruturas de controle não estão dando mais conta. Bum!
Ou explode externamente, nas alergias da pele, ulcerações, nos relacionamentos, espirrando pedras e fumaça tóxica para todo lado – normalmente na forma de brigas e críticas aos outros que, na verdade, são auto-críticas, mas quem sabe disso?
Ficar longe de si mesmo leva inevitavelmente a crises. Crises são verdadeiros portais para o auto-conhecimento, se bem aproveitados. Crise e oportunidade em chinês são uma única palavra composta de duas partes:
Como poderia ser diferente?
Na crise, a gente desperta a força interior. Desperta o mestre adormecido, tira o guerreiro do descanso. Descobre habilidades novas. A gente é obrigada a se reinventar. Se não quiser pegar essa onda, também dá para se afundar na depressão e arrumar alguém para responsabilizar, deixando o inconsciente determinar suas escolhas.
As formas de pedir ajuda são tão variadas quanto os disfarces que usamos para nos esconder de nós mesmos. Acidentes, perda de emprego e doenças estão sempre disponíveis nas lojas de fantasia. Grandes oportunidades de rever a vida. Crenças são jogadas por terra quando temos algo realmente debilitante a tratar. Quando precisamos aceitar ajuda por necessidade – não porque eu queira mas porque não tem outro jeito, porque se tivesse outro jeito, ah eu não precisaria me sentir fraco e dependente, logo eu que controlo tudo, não vou controlar minha própria vida?! Como assim?
O quanto a gente pode aproveitar e aprofundar cada parada obrigatória imposta ou não depende do momento e das estruturas internas de cada um. Sempre vai ser preciso coragem, dedicação, perseverança, um pouquinho de loucura e um montão de amor.
A ideia não é ficar bem para agradar as outras pessoas. O plano é se sentir bem consigo mesmo, dentro desse corpinho, com essa cara lavada sem maquiagem, esse par de asas que deus me deu, a idade atual (ops), todas as qualidades e potenciais, todas as sombras, traumas e monstros – são todos mEUs! Eu escolho o que permito entrar no meu mar, o que posso reciclar e o que deixo de oferenda para Iemanjá.