Meu coração, meu guia.

Por que muita gente não consegue ouvir o próprio coração? O coração não costuma gritar na orelha da gente, a não ser quando dói muito. Ele fala baixo, assim como os anjos. Treinar a escuta. Mas como achar o tempo dentro de uma agenda cheia de atividades apenas para ouvir? Ah, o tempo….

Sentir verdadeiramente o que se passa dentro da gente, o que deve ficar ou o que deve ser deixado de lado… Por que perdemos esse contato íntimo com nosso mestre interior? Alguém te ensinou a meditar, a se conectar com o mundo inteiro dentro de você? Meditação deveria ser matéria obrigatória na pré-escola. Uma benção para a vida toda.

Se a pessoa acredita que viver é estudar, trabalhar e ter uma posição na vida, o sentir não quer dizer muito. Se o emprego paga bem, quem se importa se está lavando dinheiro de bandidagem ou poluindo as águas que vamos beber?

Tá triste? Compra uma roupinha nova que passa. Tá ficando deprê? Toma um vinho para relaxar. Tá se sentindo sozinho? Vai para balada à caça de companhia na noite escura e ensurdecedora – ninguém vai reparar no que nem você quer ver.

Minha mãe sempre diz: “tem remédio para tudo, só não tem para a morte”. Analgésicos para anestesiar a dor e a consciência; ansiolíticos para esquecer os medos e os monstros que nos perseguem; anti-depressivos para levantar o astral com a força de um guindaste; pílulas para dormir para quem desaprendeu a relaxar; anti-histamínicos para acalmar as coceiras e alergias a pessoas, ambientes ou aspectos de mim mesmo. Uma coleção de anti-coisas, anti-sentimentos, anti-incômodos, anti-essência. O prefixo anti quer dizer contra… Contra evoca luta. Luta evoca ganhadores e perdedores…

“Use com moderação. Se os sintomas persistirem, consulte seu médico.”

Os remédios são necessários em muitas ocasiões. Não sou contra, uso quando preciso. O que me aflige é a facilidade com que nos tornamos dependentes deles. Como se não soubéssemos andar sem essas muletas de apoio. Usar medicamento para sair de uma crise de pânico pode ser muito providencial e necessário. Tratar esses distúrbios apenas com essas armas químicas pode ser debilitante e entorpecedor para o espírito. Sem falar nos efeitos colaterais por todo o organismo.

Uma farmácia natural e eficiente pode incluir muitos outros remédios: yoga, meditação, respiração e alimentação conscientes, exercícios físicos, contemplação, trabalhos sociais, trabalhos manuais, vivências na natureza, jardinagem…

Fico impressionada nas terapias, quando peço permissão para “ver” o coração da pessoa tão serena deitada ali na maca para limpar as toxinas e perturbações.

Às vezes, sinto o peito apertado ou uma tristeza profunda. Muitas vezes, imagens malucas aparecem no meu campo mental. Já vi corações presos em correntes enferrujadas, cobertos de sangue escuro gotejando pingos coagulados, cobertos de cracas como um navio à deriva em alto mar. Já vi corações fechados dentro de baús de madeira antigos carcomidos pelo tempo, sufocados, sem chave por perto…

Como ficamos assim? Desde quando? Dessa vida, de muitas vidas sofridas? Muitas vezes não encontramos razão suficiente nessa vida que justifique esse fechamento, nem todo o sofrimento e dor ali guardados.

A pessoa quer se relacionar de forma saudável mas não consegue. Também, como poderia, sem antes se relacionar consigo mesma, sem antes se amar e se aceitar? E como pode ela se relacionar consigo mesma se está fechada para balanço?

Muitas perguntas ficam sem resposta. Muitas perguntas são até mesmo desnecessárias. Quem fez o mal a quem não importa. Se fui eu o algoz ou a vítima, tampouco importa. Importa é ter vontade de tirar essas amarras e voltar a viver plenamente. Importa é a vontade de ter uma vida saudável e alegre. Sentir prazer nas pequenas e grandes coisas. Comemorar a existência e o presente que recebemos a cada dia – o fluído vital infinito que nos sustenta.

Quando a Vida nos apresenta a dor, a doença ou uma condição para tratar, não devemos nos sentir  castigados, mas sim entender que ela nos chama a atenção para alguma parte negligenciada. Devemos tratar sim, procurar ajuda especializada. Além disso, aproveitar que “a perna quebrou e não poderei trabalhar por uns dias” para refletir, olhar para dentro. Qual é a mensagem por trás desse acontecimento? De alguma forma, você precisava parar. Já que não achava tempo ou vontade para cuidar do seu universo sutil, ele mesmo tomou a iniciativa de abrir espaço na sua agenda.

Você pode passar batido por essa fase também. Se sentir frustrado por não poder fazer as coisas de sempre. Ficar revoltado. Culpar alguém pelo seu infortúnio. A escolha é sua. Por isso temos o tão falado livre arbítrio. Tem problema não, mais para frente a Vida te acha de novo e te brinda com novas oportunidades.

Porque o nome da nossa viagem é evolução. A transcendência é a nossa passagem. A Unidade, nosso destino.

Nós já somos Um com o Todo, mas se não nos sentimos assim, precisamos viajar e parar em muitas estações ao longo do caminho em busca dessa experiência. Usamos a experiência para chegar a Deus. Um segundo nessa Unidade é o suficiente para mudar uma vida inteira na ilusão da separação.