“Quem pode manda, quem tem juízo obedece” diz o ditado. Brincadeiras à parte…
Depois de 21 anos de casamento, não é uma questão de mandar ou obedecer. Embora assim fosse antigamente nesse lado do planeta. Será que nasci aqui porque sou uma mulher de sorte ou acumulei méritos em outras vidas, hoje posso falar o que penso e escolher como levar a minha vida atual? Sei que nem sempre foi assim.
Em várias culturas do outro lado do mundo, as mulheres ainda são mantidas caladas e afastadas da vida pública. Sem voz e sem rosto, cobertas por burcas, silenciadas, abafadas em suas casas, à espera de maridos ou torturadores. Mundo desigual. Oportunidades desiguais. Para elas, a quarentena nem mudaria muita coisa.
Um casamento (aqui) é um espaço onde se pode trazer à tona o melhor do outro, incentivar o parceiro a desenvolver seus talentos, buscar a sua verdade, fazer o que lhe dá brilho nos olhos e lhe aquece o coração. Um espaço de respeito às suas preferências, aceitação das suas chatices, apoio aos seus projetos.
“Na saúde e na doença, na alegria e na tristeza…”
Até mesmo no texto do sermão religioso a dualidade se faz presente. Dança de opostos – ora suave ora bruta, um vai e vem de sóis e luas, luz e sombra – onde a sombra minha se projeta nele e assim eu me vejo na totalidade que nenhum espelho mostra.
“Espelho, espelho meu, diga se há no mundo alguém mais… irritante/tensa/exigente/cruel… ou bondosa/gentil/amável/cuidadosa… do que eu?”
Quem precisa de um espelho mágico de conto de fadas se temos pessoas reais nos espelhando a cada movimento?
Quem se perguntaria tais tolices? Quem está realmente disposto(a) a olhar suas partes cobertas – aquelas partes que a gente finge que não tem porque falta coragem para assumir que ainda somos um pouco mesquinhos ou perversos.
Falta coragem para assumir que não temos nos dedicado ao autoconhecimento e assim não sabemos realmente o que nos incomoda, nem o que nos encanta, mas criticamos o outro por falta de foco ou consistência. Alguém está perdido por aqui…
Criticamos o outro por não apostar nos seus sonhos quando nosso medo de fracassar nos mantem escondidos atrás de uma mesa de trabalho ‘segura’ e sem graça.
Criticamos o outro por falta de movimento enquanto damos voltas e voltas em círculos – o ruído das rodas mascarando a falta de propósito e enganando os menos atentos. Tanto barulho por nada.
Criticamos o outro por se fixar em segurança, por ser pouco arrojado quando é essa mesma segurança que nos permite relaxar, experimentar e dormir tranquilos no final do dia.
Teremos condição de apoiar o outro se ele decidir largar tudo o que não faz sentido para viver o seu sonho de vida se esse sonho de vida reduzir drasticamente seu padrão de consumo?
Seremos capazes de apoiar o outro se ele decidir mudar radicalmente seus hábitos, sua alimentação ou se aprofundar em estudos que se contrapõem às nossas crenças?
Adaptações necessárias vão acontecendo dia a dia e o único equilíbrio possível é dinâmico – nada estático. Algumas mudanças vão acontecendo homeopaticamente. Outras são abruptas. Muitos casamentos acabam quando os caminhos bifurcam em ângulos obtusos, quando crenças colidem feito super novas, quando a língua falada não compartilha o mesmo alfabeto.
A auto realização é primeira união: o casamento sagrado de masculino e feminino dentro de cada um, do pequeno eu e do Eu Superior, do ser humano e do divino. Esse caminho pode ser trilhado a sós ou entrelaçado ao segundo casamento sagrado: a união de dois seres em busca de sua inteireza e completude.
Complexo e desafiador. Eu sigo me dedicando à harmonização dos opostos. Que ‘seja eterno enquanto dure’ pois enquanto dura a vida que é eterna, temos uma razão para amar.